11 junho 2008

Devaneios...

Semana passada eu reencontrei um amigo que há anos não via. Contou-me que havia passado por uma barra bem pesada lidando com o namorado ciumento. Daquele tipo de namoro em que um se acha no direito de revirar os arquivos temporários do laptop do outro em busca de diálogos virtuais comprometedores e rastros pecaminosos do navegador de internet. E a máxima do "quem muito procura acaba encontrando" se fez verdadeira pela milionésima vez na história do namoro na infame era digital. Um comentário absolutamente sem maldade feito no mensageiro virtual transformou-se no estopim para uma briga homérica, com direito a ataques histéricos que culminaram em objetos sendo lançados pela casa. Acabou o namoro, claro. Um dizia não poder mais confiar no outro e o segundo não estava mais disposto a lidar com surtos violentos de ciúme em público.
Um dia depois, outro amigo relatou emocionado via e-mail da nova paixão, apimentada pelo que ele chamou de "ciúme do bem". Mas o que seria esta categoria? Bem, segundo ele, é aquele controle "carinhoso" em que o parceiro possui as senhas do e-mail, MSN, Orkut e os verifica periodicamente para ver como anda sua vida, quem deixou recado, depoimento, o que falou, quando falou e que palavras usou. "Eu nem tenho vontade de trair". Não sei bem até que ponto ele realmente não tem vontade ou foi coagido a não trair. Ou se o que ele realmente estava esperando para ser feliz era mesmo uma relação nesses moldes. Só o tempo dirá e, na minha posição de amiga, desejo que ele receba a felicidade da forma que ela se apresentar.
A outra, segundo definição de sua terapeuta, namorava um ratinho. Era fortão por fora, uma verdadeira muralha de músculos, mas frágil e inseguro por dentro. Tão frágil que exigia atenção permanente, como um rapazinho que precisa desesperadamente da mãe. Tão inseguro que era capaz de bater na namorada, caso suas vontades não fossem feitas em tempo hábil, estipulado por ele. Ia do carinhoso excessivo ao violento irascível em minutos. Não conseguia entender que a parceira não tem obrigação de fazer o papel de mãe, muito menos de saco de pancadas. Terminaram. Depois voltaram. Terminaram de novo e assim sucessivamente.
Uma relação é feita de duas pessoas, certo? Isso me leva a crer que o namorado ciumento e inseguro não existiria sem o respaldo da sua contraparte. A relação avança na direção definida pelos dois. Pode ir à galope ou troteando, mas não há dúvida que muito se quebra pelo caminho.
O fato é que eu tenho telhado de vidro. Já fiz coisas das quais não me orgulho e, se possível fosse, voltaria no tempo para evitá-las. Porque me parece que o ciúme não é tempero para nada, mas sim um potente veneno capaz de matar o mais resistente amor. Pra começo de conversa, vamos esclarecer um equívoco que vem se perpetuando ultimamente: o ciumento não é aquele que ama demais. Muito pelo contrário, o ciúme patológico nada tem de amor, é a ausência dele. É a completa falta de respeito pelo parceiro e por si mesmo. Se o amor fosse uma rua ensolarada, o ciúme seria o beco escuro. E nos embrenhamos todos em algum momento por esses becos, é humano e inevitável. Mas a relação não pode ser feliz quando faz sua casa num deles. Não se pode ser feliz na escuridão.
Seria lindo dizer "vamos todos caminhar, em parzinhos sorridentes, de mãos dadas pela ensolarada via do amor saudável". Seria também hipócrita. Mas tentar não custa nada. É isso aí companheiro, aprendendo e tentando crescer sempre.