28 dezembro 2005

O meu surreal.

É a história de quando viajei para o alto. Não conhecia os limites do céu e da terra e naveguei além da escuridão. Dizia-se que meus vestígios foram vistos algum tempo atrás. Eram as pegadas dos meus saltos de conquista e cantos de aproximação. Porém, não se sabe ao certo quando vivi e o que fiz de concreto.

Durante o meu percurso, tive o prazer de conhecer pessoas que se aventuraram a conhecer o meu universo. Tornei-me seus confidente, e aos poucos fui contando-lhes por onde passei. Eu era uma criatura de corpo frágil e mente milagrosa, e levei os outros a conhecer os limites do real.

Ultrapassamos a terceira margem do rio. Não era a travessia completa, e todos os meus sentimentos evaporaram: eu era alma. Como alma fiz trabalhos incríveis no sobrenatural, sobrevivi em lugares onde o homem nunca havia passado. Eu conhecia cada esquina do frio sombrio e mostrei-lhes aos detalhes cada segredo que eu mesmo escondia.

No primeiro canto demonstrei-me ausente. Queria que todos entendessem o meu ser. Sou assim porque hei de ser! Então vieram os fogos de artifício com todos os pensamentos translúcidos: a amizade, a compaixão, a timidez, o desconforto, a sensatez, o orgulho, o ceticismo e a alegria. O incrível era que uma musica clássica soava ao fundo... cada tecla do piano deixava o ser ainda mais compreendido.

Serei, eu, agora um objeto de estudo? Terei sido, eu, eternizada? Para que tanto interesse em alguém distante da vida e “compreendedora” dos fatos abstratos? Não sou psicanalista, nem estudo o interior dos sonhos, sou alguém que deseja me entender e mostrar aos outros o que sou, para que a minha imagem não fique distorcida.... É meu estado de insanidade dizer que só eu posso ir além do além. Todos nós já viajamos para o alto!

Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança. E começa a aprender que beijos não são contratos e presentes não são promessas. E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança. E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão. (William Shakespeare)