30 outubro 2005

Sou Fera, sou bicho...sou anjo, sou mulher!

Neste álamo sombrio, aonde a escura
Noite produz a imagem do segredo;
Em que apenas distingue o próprio medo
Do feio assombro a hórrida figura
Aqui, onde não geme, nem murmura
Zéfiro brando em fúnebre arvoredo,
Sentado sobre o tosco de um penedo
Chorava Fido a sua desventura.
Às lágrimas, a penha enternecida
Um rio fecundou, donde manava
D'ânsia mortal a cópia derretida;
A natureza em ambos se mudava;
Abalava-se a penha comovida;
Fido, estátua de dor, se congelava.
(Claudio Manuel da Costa)

Esbanjarei egocentrismo!
Devo, antes de qualquer coisa, informar-lhe que tenho predileção pelos verbos conjugados em primeira pessoa: verbos fortes, marcantes, indispensáveis e grandiloquentes! EU SOU; EU FAÇO; EU TENHO!
Vivo num mundo perdido. Gosto de movimentação, de imagens e sons, porém,
mesmo ao lado do agito das metrópoles, sinto-me desamparada. Cheguei à conclusão de que detesto agitação, paisagens destorcidas e poluição sonora! Criei, até, um segundo mundo. Paisagem bucólica, mentes pensantes, harmonia entre seres, terra, sol e água fresca. Tudo o que necessito. Alias, tudo o que uma mente sã necessitaria!
O perfeito lócus amoenus!
Acho incrível como consigo conciliar o meu estresse rotineiro com a minha incrível ambição de tornar o impossível real. Tento simplesmente relaxar e sentir. Gosto da minha companhia, dos meus conselhos e dos meus hábitos. Talvez seja por isso que vivo em equilíbrio nesse mundo que não foi feito para mim. Não deveríamos viver nessa farsa, mas parece que cada vez mais o mundo nos obriga a sermos fiéis àquilo que não nos dá prazer.
Um exemplo? Detesto máquinas, embora eu faça delas o meu sustento e o meu prazer (assisto TV diariamente, entro da internet com grande freqüência e ando de carro...).
Criarei um mundo maravilhoso. Cheio de neologismos para qualificá-lo! E não direi onde se encontra tal paraíso, cabe a cada um criar o seu! O meu, eu sei que será perfeito. Não haverá sistema, injustiça, diferença. Talvez viva solitária... Solitária, não; com a minha companhia...
E depois de tanto pensar a respeito, do que sou e do que não sou, do que fiz e desfiz, acredito que sou inconstante. Sou quieta e extravagante; fera e bicho; anjo e mulher; fraca e firme; real e imaginária; apaixonada... Libidinosa. Imaginar-me como um ser complexo é muito vago! Sou, antes de tudo, importante! E sei que essa importância não seria nada se eu mesma não acreditasse em mim...